Ao pé desses vulcões gigantes é fácil entender porque os incas os consideravam deuses. É fácil saber porque diziam que a montanha era viva. Seu picos nevados tocam o céu e mesmo sua aparente imobilidade deixa clara a grandiloquência dos seus perfis no horizonte. "Se el Misti entra en erupción, se acaba Arequipa", diz o guia que nos aborda dentro do convento dos jesuitas, hoje convertido em centro comercial/turístico. Fred nos decifra alguns dos signos ocultos daquela construção antiga e como os jesuítas deixaram signos da religiosidade local misturados aos "oficiais" trazidos pelos espanhóis. No pátio de uma Igreja, um cristo na cruz está ladeado pelo sol e pela lua. Para nosotros, naquele momento, o símbolo mais sintético desse cristianismo mestiço, repleto de sabedorias antigas que cederam à ignorância do invasor e fingiram capitular, porque se sabiam eternas.
Pouco antes, no museu dos santuários andinos, uma série de objetos ritualísticos encontrados junto à múmia da menina Juanita, trazem, cada um, uma mensagem do passado que nos toca o coração. Uma vibração antiga que nos faz voltar no tempo para entender e compartilhar um pouca da visão inca do universo, de deus, da natureza, do homem... E no fim, a múmia de outra "criança deus", Sarita, oferecida à montanha nos encara de dentro de sua câmara fria, por trás de três camadas de vidro blindado, e mesmo assim, podemos sentir como foi intenso o seu propósito e quão profundo o significado do seu sacrifício final. Por meio de Juanita, Sarita e outras crianças deuses oferecidas à montanha, até agora o gelo derretido revelou 11, o povo Inca renasce, em todo esplendor de sua eternidade.
Além disso, a "ciudad blanca" do Peru é um centro gastronômico de tentações variadas. Aqui o pecado da gula é um dos mais atrativos e é muito difícil não cair em seu alçapão. Como nos diz Walter, o "mestre em culinária pré-inca", a cidade era uma encruzilhada onde se cruzavam, além de caminhos, costumes, culturas e receitas, claro. Em seu restaurante, o Soncollay (meu pequeno coração, em Quechua), celebramos o nosso "carnivorismo" de uma forma selvagem e farta, comendo costelas e lombo de alpaca assados sobre rochas de vulcão superaquecidas pelas brasas de uma tradição muito antiga. Valter, com sua aparência rude e descuidada, não lembra em nada um chef, ou um mestre de tradições antigas, mas é isso o que é, e os bons momentos gastronômicos que vivemos no seu Soncollay, regados a uma quase gelada Arequipeña, não nos deixam mentir. Hoje, só ceviche, para desopilar o fígado, como diria meu amigo Jura.
2 comentários:
Interessante hein? To gostando, só faltam as fotos. Alpaca na pedra de vulcão... deu até vontade de comer... rsrs
Ha, já arrumei o carro, descobri o problema aqui em casa mesmo. Tà 100%. Uma preocupação a menos na volta.
Abraços, divirtam-se.
Adorei as fotos!!! Beijossss e aproveitem muitoo!
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